segunda-feira, 12 de setembro de 2011

EDUCAÇÃO SEXUAL: DO QUE ESTAMOS FALANDO?


Para pensar a educação sexual, precisamos percorrer, em poucas linhas,vejamos alguns caminhos da história da sexualidade. De acordo com Foucault (2003), a partir dos séculos XVI e XVII percebe-se a sociedade ocidental grande multiplicação dos discursos sobre o sexo que, ao investigá-lo minuciosamente, defini-lo, acabaram por ocultá-lo.
O autor defende que, ao buscar produzir verdades sobre ele, construíase uma associação entre sexo e pecado, sexo e patologia. O autor conceitua a sexualidade como um “dispositivo histórico”, uma
invenção social; os múltiplos discursos sobre ela estabelecem regulações, normatizações, saberes, produzem “verdades”; essas verdades se emaranham na vivência cotidiana e se expressam através
da cultura, dos valores morais, religiosos, econômicos; enfim, a sexualidade é uma construção social fundada em bases históricas, mediada por relações de poder.
Destarte, não existe um padrão universal de sexualidade, como afirma Zucco (2007):A sexualidade está impregnada de convenções culturais que modelam as relações sociais e sexuais de adolescentes, jovens,adultos, idosos e assume formas e significados distintos, de acordo com a cultura na qual está inserida. Há variações na dinâmica social dentro de uma mesma comunidade, segundo a ideologia, a origem social, a religião, os valores e as crenças das famílias.
Dentre os discursos produzidos, Foucault (2003) salienta que, historicamente, o discurso médico tem prevalência sobre os demais que contribuem para a disciplinarização dos corpos. Não é por acaso que frequentemente as abordagens sobre a sexualidade nos espaços escolares são encabeçadas por professores de Biologia e do ensino de Ciências, como “agentes privilegiados na construção de
saberes e respostas sobre a sexualidade humana”, dando ênfase aos aspectos biológicos no  entendimento sobre o tema, relegando a segundo plano o debate sobre o corpo, gênero, papéis sexuais (Carvalho, 2009,p. 2).
A autora afirma ainda que existe uma tendência tanto dos professores quanto dos materiais didáticos disponíveis de enfatizar, como estratégia pedagógica para a abordagem do assunto, a título de educação sexual,as bases “anatomorfofisiológicas e de saúde sexual”.Nessa linha de argumentação, Carvalho (2009) destaca que esse reducionismo deixa a discussão capenga por desconsiderar as outras
dimensões em que estão mergulhados os debates, os saberes sobre a sexualidade. As tensões advindas desses saberes que estão sendo produzidos e estão em constante movimento não são oriundas dos
processos biológicos mas de como esses processos interferem na vida dos sujeitos. O conhecimento da sexualidade, portanto, ganha novos significados enquanto percorre diversas outras posições e cenários que envolvem posições políticas, sociais, institucionais e pessoais, muitas vezes não exploradas quando se visualiza a construção do cotidiano e as possibilidades de desestabilizar identidades
e discursos dominantes (Carvalho apud Carvalho, 2009, p. 4). Quando exploramos e enfatizamos a dimensão cultural da sexualidade, fica evidenciado que essa dimensão não é excludente da dimensão
biológica; ambas confluem, se intercambiam e se retroalimentam. Garcia (2003) ilumina esse debate, ressaltando ser impossível falar em sexualidade sem chamar a atenção para a importância da herança cultural que se recebe dos antepassados, incluindo os aspectos morais capazes de determinar, em cada época, os padrões de sexualidade considerados normais. Assim, as sociedades humanas veem os padrões herdados se modificarem, resultando em novos comportamentos, desejos e valores,
finalizando numa nova sexualidade. Por isso, o autor revela ser necessário desvincular o sexo biológico (conjunto de características físicas e biológicas que diferenciam homens e mulheres) do papel sexual. Este não limitado à natureza biológica do sexo; reflete a expectativa que a sociedade tem em relação ao comportamento e às atitudes das pessoas de um determinado sexo. O papel sexual está em permanente transformação; os padrões sociais de comportamento e identidade sexual são mutáveis e se modificam em razão de inter-relações culturais inerentes a cada sociedade em um
determinado momento histórico. Nesta obra, Garcia (2003), reportando-se a Terolli Júnior, destaca ainda que sexo biológico e papel sexual são alguns aspectos fundamentais da identidade sexual, com grande influência na forma como se vive a sexualidade: o vasto conjunto de ideias, desejos, fantasias, tabus e práticas sobre a atividade sexual, o prazer de homens e mulheres e a forma como as pessoas se desejam e respondem aos estímulos sexuais.
Nessa perspectiva podemos compreender o sexo como a expressão biológica que define um conjunto de características anatômicas e funcionais, genitais; e a sexualidade, para além dos aspectos biológicos,é compreendida como uma expressão sociocultural, histórica e psíquicoemocional.
Nessa direção, observamos que os conhecimentos sobre a sexualidade estão frequentemente entrecruzados pela cultura, provocando a necessidade de dar respostas às inúmeras e históricas demandas da comunidade escolar sobre a questão.Para atingir esse objetivo, precisamos ter clareza dos respaldos legais que deverão ser nossas ferramentas para uma intervenção crítica,
criativa e propositiva na realidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário